segunda-feira, 14 de abril de 2008

O setor mineral vive um de seus melhores momentos

Panorama e desafios do setor mineral brasileiro Edison Lobão O setor mineral vive um de seus melhores momentos O setor mineral vive um de seus melhores momentos. A demanda internacional por commodities minerais alcançou um nível extraordinário nos últimos cinco anos. Os preços, em decorrência, deram saltos inéditos na história econômica do comércio de bens minerais. Este novo boom mineral, depois de duas décadas de preços deprimidos, têm como causa principal o elevado e continuado crescimento das economias da China (destacadamente) e da Índia, bem como de outros países, inclusive o Brasil. No caso da China e Índia, são 2,4 bilhões de pessoas (40% dos habitantes do planeta) que consomem, per capita, materiais e energia em níveis crescentes, seguindo o caminho percorrido pelos países atualmente considerados desenvolvidos. Esta conjuntura impulsiona inúmeros novos projetos minerais e metalúrgicos e expansões de instalações existentes em todo o mundo. O Brasil ocupa posição de destaque nesse cenário pela riqueza da sua geodiversidade, presença de mão-de-obra especializada em diversos níveis e marcos legais estáveis e seguros para os investimentos. Internamente, o quadro da demanda por bens minerais também é favorável. O crescimento sustentado da economia, previsível para os próximos anos, aliado aos investimentos em curso do Programa de Aceleração Econômica (PAC), permitem prever uma demanda crescente por bens minerais e produtos derivados. É sabido que o Brasil apresenta baixos níveis de consumo per capita de minerais, bem como de energia: menos da metade dos níveis de consumo dos países desenvolvidos. A assimetria verificada entre países desenvolvidos e aqueles em desenvolvimento também se reproduz no território nacional, isto é, nas regiões Sudeste e Sul o consumo per capita de diversos produtos minerais é muito superior ao das regiões Norte e Nordeste. A última consolidação de investimentos em mineração no Brasil aponta para US$ 32 bilhões, nos próximos 4 a 5 anos, com o protagonismo do segmento de minério de ferro, responsável por cerca da metade desses investimentos. Os Estados de Minas Gerais e Pará são os líderes nacionais em produção mineral e em investimentos. Os destaques brasileiros em mineração, por sua posição no ranking de produção mundial, merecem citação: ferro (1º), nióbio (1º), manganês (1º), bauxita (2º), grafita (3º), rochas ornamentais (4º), amianto (4º), magnesita (4º) e caulim (5º). Nos próximos anos, com os investimentos em curso, o país será também importante produtor de níquel e cobre. Por outro lado, ainda é grande nossa dependência em relação ao subsolo alheio para alguns bens minerais. Como exemplos, o carvão metalúrgico, potássio, fosfato e enxofre, os três últimos essenciais à fabricação de fertilizantes para a nutrição do solo de nossa dinâmica agricultura. São carências para as quais o ministério está atento e aprofundando o entendimento da situação para propor alternativas de solução dessa situação. Gostaria de destacar um importante segmento da mineração brasileira que muitas vezes é relegado ao esquecimento. Refiro-me à pequena mineração, que não pode ser colocada em segundo plano. Esse segmento representa mais de 70% do número de empresas de mineração do país; 25% da mão-de-obra contratada (considerando a informalidade, alcança 40% dos trabalhadores do setor); e que predomina na produção de argila para fabricação de tijolos e telhas, areia e brita para a construção civil, ardósia, calcário, gemas, gipsita, granito, diamante, feldspato, mica, quartzito e outros bens minerais. Como ministro de Minas e Energia, e com a experiência de parlamentar e governador, considero importante apoiar e fomentar a mineração das pequenas empresas que necessitam do suporte governamental para praticar suas atividades produtivas em bases sustentáveis. Idem , para a atividade mineral em áreas de garimpo, desde que subordinada às legislações minerárias e ambientais. Brasil apresenta baixos níveis de consumo per capita de minerais, menos da metade dos níveis dos desenvolvidos Os dados acima mencionados sinalizam claramente para o grande potencial de crescimento da produção e do consumo interno de bens minerais nas próximas décadas e os enormes desafios para o Ministério de Minas e Energia, que me cabe comandar nesse período da vida nacional. Nossa linha de atuação tem como eixo principal contribuir para o desenvolvimento sustentado da pesquisa e da extração de bens minerais, incentivando e apoiando a agregação de valor na cadeia produtiva de maneira a maximizar as oportunidades do mercado nacional e do internacional. Um bom sinal são os investimentos em siderurgia, que somam mais de US$ 30 bilhões para os próximos anos, agregando valor ao nosso minério de ferro. Expansões e novas siderúrgicas em Minas, Rio e Espírito Santo e as primeiras siderúrgicas do Ceará e Pará, já estão em construção ou com investimentos confirmados. A contribuição do setor mineral à economia brasileira tem sido significativa. A mineração (exclusive petróleo e gás) e a transformação mineral respondem por cerca de 5%, em termos de participação no PIB. Dados do comércio internacional de 2007 mostram que a mineração, siderurgia, metalurgia dos não-ferrosos e os produtos não-metálicos responderam por 21% das exportações, 13% das importações e por 43% do saldo comercial brasileiro. O último relatório do Instituto Fraser, organização canadense que anualmente divulga o ranking de atratividade em pesquisa mineral para 68 países, com base na percepção de 260 executivos e gerentes de empresas em todo o mundo, mostrou uma posição confortável para o Brasil. No indicador que mede o potencial mineral de um país em conjunto com as leis e os regulamentos vigentes, o país apresenta-se em igualdade com o Canadá e Austrália, e mais atrativo que os EUA, China, Rússia, Índia e África do Sul, para citar apenas grandes países mineradores. Outro estudo de importante instituto que acompanha os investimentos em pesquisa mineral no mundo, o Metal Economics Group (MEG) / 2008, aponta o Brasil entre os 10 primeiros países para onde se dirigem recursos internacionais para a pesquisa mineral, ao lado da China. Em períodos favoráveis à mineração, como o que atravessamos, é compreensível a premência, por parte do empresariado e dos trabalhadores do setor mineral, de soluções rápidas para os problemas que vivenciam há muitos anos. Os municípios e Estados com atividades de mineração importantes, por seu lado, percebem também a oportunidade, neste ciclo de bonança, de recursos adicionais de royalties para diversificação de suas atividades econômicas. São reivindicações justas que o Ministério tem estudado e procurado resolver, juntamente com outros setores do governo federal. Ao assumir o cargo de ministro sinalizei sobre a necessidade de atualização do Código de Mineração, de 1967. Estamos ultimando as propostas que contribuirão para o estabelecimento de uma política mineral alinhada com os atuais desafios. O fato é que o setor mineral receberá do MME toda a atenção, reafirmando o compromisso do governo Lula com o pleno desenvolvimento do grande potencial geológico do nosso Brasil, sempre subordinado ao melhor interesse dos brasileiros, fazendo com que o aproveitamento de nossa riqueza mineral corresponda também à ampliação da riqueza do nosso povo. Edison Lobão é ministro das Minas e Energia

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Eike Batista se une a chineses para investir em energia solar

São Paulo - Roberto Hiraxi A MPX, a empresa de energia de Eike Batista, vai investir em projetos de geração via energia solar. A empresa firmou convênio com a chinesa Yingli Solar para construção de uma fábrica de painéis solares e usinas. A previsão é que no início do ano que vem um projeto piloto de uma usina de energia solar, com 50 MW de capacidade instalada, comece a operar no porto de Açu, situado em Campos, região norte fluminense (RJ). A fábrica de painéis será instalada no mesmo local. "No futuro, temos planos de nos transformamos em uma grande empresa de energia renovável. Os chineses entrarão com a tecnologia e nós, com a engenharia e o investimento. Eles têm a mais avançada tecnologia na produção de painéis solares", afirmou Eike Batista. Apesar dos custos de geração de energia solar estarem entre os mais altos do mercado (custo de R$ 200 por MW), o empresário aposta que os preços devem cair nos próximos anos, tornando-se mais caros apenas do que a geração hidrelétrica, uma das formas mais baratas (custo médio de R$ 120). O empresário explicou que a expectativa de maior escala da produção de silício (matéria-prima dos painéis) fará com que o custo da geração de energia solar despenque no mercado. Ele calcula que em 2011 o custo do MW gerado será de US$ 100 (aproximadamente R$ 172). "As outras energias terão os preços aumentados nos próximos anos, não tenho dúvida. O custo vai passar de US$ 100", disse ele. Eike acrescentou que a MPX já está à procura de possíveis locais para a instalação das usinas de energia solar. Entre os possíveis locais estão o Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais, e áreas localizadas no nordeste brasileiro.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Vale faz nova oferta de compra pela Xstrata

São Paulo - Roberto Hiraxi Vale faz nova oferta de compra pela Xstrata 21.02.2008 07h35 Publicidade Por AEAgência Estado A Vale apresentou uma nova oferta pela mineradora anglo-suíça Xstrata, acrescentando US$ 13,3 bilhões à sua proposta inicial de compra. O valor da oferta teria passado agora para US$ 89,3 bilhões, com parte do pagamento em ações preferenciais da mineradora brasileira, segundo especulações de mercado. Até agora, as negociações correm em caráter informal, mas as apostas de analistas indicam uma formalização da proposta ainda esta semana. Ontem, havia rumores também de que a Anglo American faria uma oferta pela Xstrata.A expectativa é de que o negócio seja fechado. De qualquer forma, a Vale já tem pronto um “plano B”, desviando seu foco para outra empresa, caso a Glencore, maior acionista da Xstrata, recuse a proposta - a Vale tem um mapeamento completo das dez maiores mineradoras do mundo. A primeira proposta informal da Vale à Xstrata equivalia ao montante de US$ 76 bilhões, ou 40 libras esterlinas por ação. Os controladores da empresa pediam 50 libras por ação. A oferta atual corresponde a 47 libras por papel.A nova ofensiva sobre a Xstrata ocorre apenas dois dias depois do fechamento dos primeiros acordos da Vale com siderúrgicas asiáticas e européias elevando o preço de seu minério em 66,5%, em média (71% para o produzido em Carajás, no Pará, e 65% para o minério extraído das minas do complexo Sul-Sudeste). As informações são do jornal O Estado de S. Paulo. var enviaAmigo = new EnviaAmigo();

segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

Lula desembarca com comitiva de empresarios na Bolivia de Morales

internacional@pstu.org.br Viagem a Bolívia foi marcada por pedido de paciência a Evo Morales e fechamento de bons negócios para Petrobras, Braskem e construtoras. Comitiva contou com 30 empresários, de olho na exploração do gás, na construção de estradas e pontes e nas termelétricas do Rio Madeira (RO) Nericilda Rocha e Joallan Cardim, de La Paz O presidente Lula esteve nos dias 16 e 17 de dezembro em La Paz. Havia estado em 2003, depois do processo revolucionário que derrubou Sanchez de Losada e exigiu a nacionalização do gás sem indenização. Na época veio pedir paciência e calma ao líder cocalero Evo Morales, dirigente do maior partido de esquerda, o MAS, para que a revolta das massas não tivesse maiores desdobramentos e fosse pactuada uma saída no campo eleitoral. Agora volta a pedir paciência a Evo Morales. O pedido mais uma vez ocorre em um momento de polarização das forças sociais no país, no qual o governo vive um dilema: de um lado, reivindicações dos movimentos sociais e o crescente repúdio à direita e, do outro, a pressão da burguesia oligárquica em seis regiões. Esta burguesia chamada de “media luna” havia sofrido um duro golpe com o levante popular de 2003 e uma derrota eleitoral em 2005 que resultou na vitória de Evo. No entanto estes setores voltaram a se fortalecer com a política de Evo e do MAS de buscar a todo momento acordos e pactos. Isto se rompeu quando Evo, pressionado pelos campesinos e povos originários, viu-se obrigado a levar a Constituinte até o fim e aprovar uma proposta de Nova Constituição que, todavia, ainda necessita ir a um referendo. A burguesia do país ameaça declarando autonomia ou maior poder econômico e político para os estados, o que também necessita ir a um referendo. Apesar de ser um desejo antigo desse setor, a pressão pela autonomia ocorre agora por dois motivos. Primeiro porque o governo cortou uma parte significativa do orçamento dos estados para 2008 relacionado com o Imposto Direto dos Hidrocarburos (IDH), com argumento de financiar projetos sociais como Juancinto Pinto (uma versão parecida ao bolsa família) e o Renda Dignidade (um bônus de 200 bolivianos ou 25 dólares ao mês para idosos acima de 60 anos). O segundo está relacionado com a posição do governo de aprovar a Nova Constituição e querer levá-la a referendo. A proposta de Nova Constituição, apesar de um fato inédito ao reconhecer os povos indígenas e seus direitos, mantém todas as garantias ao capital privado, às transnacionais e aos latifundiários e dá o direito de autonomia departamental exigida pela burguesia. Tanto é assim que a discordância de Evo à declaração autonômica é que deve ser feita dentro da lei, quer dizer, a oposição burguesa deve aceitar a nova constituição, que até o momento rechaça. Nesse contexto Lula desembarca pedindo paciência a Evo e prometendo “benefícios aos irmãos bolivianos”. Longe de estar tocado pelo espírito de “Papai Noel”, Lula trouxe em sua comitiva 30 empresários do setor privado entre eles o vice-presidente da Braskem e representantes de construtoras. Na verdade veio fechar bons negócios para a Petrobras, a Braskem, as construtoras Camargo Correa e Odebrecht e o setor de agroindústria. Lula chegou ao país por volta das 18 horas (horário local) e seguiu para a residência do embaixador Frederico Cezar de Araújo. Depois, foi para o Palácio Quemado, sede do governo boliviano. Em paralelo acontecia um encontro entre os empresarios que desembarcaram com Lula, recebidos por empresarios brasileiros que já estao instalados aqui na Bolívia, preparando grandes investimentos em setores como mineraçao, petróleo, energía e agroindústria. Neste encontro se discutia as perspectivas de garantias para investimentos no país. As empresas mais questionadas eram as que pretendem atuar com recursos naturais, tema dos mais polêmicos por aqui, estando presentes o grupo Votorantim Metais, e outras mineradoras com planos de grandes investimentos no país vizinho. O empresário Gustavo Granier Ferreira, coordenando um grupo de investimentos em mineração e tendo três empresas instaladas desde o início de 2006, adimite os atrazos gerados pela instabilidade política mas acredita em dias melhores: "..temos atrasos significativos para inicio dos projetos. Você me perguntar se existem riscos políticos? -eu diria que o céu está nublado, mas você precisa aterrissar, olhar daqui de baixo, pisar em solo firme e verificar que o terreno é fértil. Acreditamos em um acordo politico que trará a estabilidade necessária para o desenvolvimento de nossos negócios no país. Enquanto isto, estamos tomando posição porque conhecemos o potencial e as possibilidades". Porque a Petrobras voltou a investir no país Após a venda das refinarias, Sergio Gabrielli, presidente da Petrobras, havia declarado que a empresa não faria mais investimentos na Bolívia. Mas, como bons representantes dos negócios da burguesia, Lula e Gabrielli anunciaram em sua viagem que agora a Petrobras investirá de US$ 750 milhões a US$ 1 bilhão. A que se deve a mudança? O Brasil segue dependendo do gás boliviano. Diariamente, a Bolívia envia 30 milhões de metros cúbicos pelo gasoduto Bolívia-Brasil e boa parte desse gás abastece São Paulo. Acontece que o Brasil necessita de mais gás agora e para os próximos anos e a Bolívia necessita ampliar sua produção já que aumentou os compromissos de exportação para a Argentina e agora ao Brasil. O recém-descoberto megacampo de Tupi, segundo especialistas, levará ao menos sete anos para começar a fornecer óleo ou gás, iniciar explorar, pois está a 7 mil metros de profundidade e em um terreno salino. Ao menos em um período curto, a saída mais rápida e barata para Lula e a Petrobras segue sendo saquear o gás boliviano. A lógica é investir para levar mais gás. Não há nada de negócios entre irmãos como anunciou Lula e muito menos de ter “sócio e não patrões” como respondeu Evo Morales. Tirando a retórica de integração entre os paises latino-americanos, o que fica são acordos que aprofundam a dependência da Bolívia às transnacionais, nesse caso a Petrobras. O acordo de início impôs à Bolívia enviar gás a Cuiabá para retomar o funcionamento da termoelétrica, então paralisada. Dos 750 a 1 bilhão de dólares que a empresa investirá até 2011, a prioridade, segundo Gabrielli, será aumentar a produção nos megacampos de San Alberto e San Antonio, operados pela Petrobras. Em seguida o campo Itaú operado pela Petrobras em parceria com a transnacional francesa Total. É compreensivo. O investimento é uma garantia de que o aumento da produção permitirá exportar mais gás ao Brasil. Depois acordaram a criação de uma empresa mista entre a Petrobrás e a YPFB, a empresa boliviana, para explorar campos já descobertos pela por esta nas cidades de Tarija, Santa Cruz e Chuquisaca e também para buscar novas descobertas. Da produção desses campos e dos possíveis novos, a Petrobrás poderá exportar tranquilamente, estando obrigada contratualmente a vender apenas 18% ao mercado interno. Também será criada uma empresa mista entre a maior petroquímica de América Latina, a brasileira Braskem, e a YPFB. A idéia é estudar a possibilidade de instalação de uma planta separadora de gases na região do Chaco para que a Bolívia consiga agregar valor ao gás que exporta. Do gás comprado da Bolívia, cerca de 10% são os chamados gases ricos, de melhor qualidade e com maior valor no mercado como o etanol, usado na petroquímica, e o propano e butano, para o GLP. A Petrobras, consciente de que Bolívia não tendo uma planta separadora não pode cobrar a parte por estes gases, nunca pagou por eles, mas os fatura. Tem lucro dobrado. O acordo incluiu que a partir de maio a empresa deverá pagar cerca de 100 milhões de dólares pelos gases nobres (metade do que valem, segundo especialistas) e iniciar estudos para que Braskem instale esta planta e passe a operar no país. Caso aconteça, tudo leva a crer que a reivindicada industrialização do gás a serviço dos bolivianos exigida nas jornadas de lutas de 2003 e 2005 será uma letra morta. Significará mais uma transnacional obtendo lucros sobre o gás boliviano. As empresas mistas têm sido o centro da política de hidrocarbonetos de Evo Morales não obtendo nenhuma resistencia da oposição burguesa. Ao contrário, esta pressiona por sua ampliação. O que comprova que, embora tenham alguns interesses diferentes, quando se trata de ir contra as reivindicações populares estão unidos. A reivindicação popular de nacionalização foi o que levou o governo a decretá-la, mas esta se resumiu a um aumento do imposto pago pelas transnacionais, recompra da refinaria e uma promessa de que as transnacionais seriam prestadoras de serviços à estatal boliviana YPFB. No entanto, com as empresas mistas (antes PDVSA, agora Petrobras e pode ser também qualquer empresa privada) a verdadeira prestadora de serviço é a YPFB, os beneficiados são as transnacionais e o prejuízo é ao povo boliviano que segue vendo sua principal riqueza ser levada. Isto é feito sob o discurso de Evo Morales de que “se está realizando uma profunda mudança, se está nacionalizando os hidrocarbonetos e fortalecendo a estatal YPFB”. As empresas mixtas têm outra importância para Evo ¬- à sombra delas ele leva ao povo o discurso de “queremos sócios e não patrões”. Acontece que mentira tem perna curta. Até quando Evo, com o apoio da burguesia e grandes empresas petroleiras, conseguirá convencer aos trabalhadores que Petrobrás e Braskem são sócias é uma incógnita. Agro-negócio, corredor inter-oceânico e um bom negócio para as construtoras Alguns meios de comunicação se adiantaram a caracterizar a presença de Lula, um dia após a declaração de autonomia da oposição de direita, que tem como principal base os empresários e agroexportadores da província de Santa Cruz, como um apoio político a Evo e uma retaliação ao setor de Santa Cruz. Nada mais falso. Lula trouxe também rentáveis negócios a este setor. Anunciado por Evo como um presente de Lula a Bolívia, os dois presidentes posaram para fotos em cinco tratores doados pelos governo brasileiro. A doação na verdade fazia parte da venda de 300 tratores fabricados no Brasil a agroexportadores bolivianos e do anúncio de uma linha de crédito de US$ 600 milhões do governo brasileiro a empresários bolivianos do setor de construção de estradas e pontes e grandes latifundiários. Parte desse crédito poderá ser usado pela construtora brasileira Queiroz Galvão para construir uma ponte fronteiriça. Bachelet, Lula e Evo Domingo, 16 de dezembro, a presidenta do Chile, presidentes do Brasil e Bolívia anunciaram o projeto de construir para 2009 um corredor interoceânico com 4.700 quilômetros, do Atlântico ao Pacífico. Seu custo seria de US$ 900 milhões e ligaria o porto de Santos (Brasil), passando por Santa Cruz, Cochabamba, Oruro e La Paz, até os portos de Arica e Iquipe, no Chile. Sóliz Rada, ex-ministro de hidrocarbonetos de Evo Morales, declarou que este corredor ajuda a resolver um gigantesco problema das transnacionais mineiras que atuam ao norte do Chile e sobrevivem de importar carvão da Indonésia, Canadá e Colômbia. Segundo ele, este corredor facilita a venda de gás ao Brasil e Chile, e que este seria seu grande papel. Ironia da história: em 2003 um dos elementos que impulsionou o processo revolucionário foi que Goni queria vender o gás boliviano aos EUA levando ao Chile. Rio Madeira Comenta-se que a visita de Lula também desobstruiu os empecilhos colocados pelo governo boliviano para a construção das hidrelétricas Jirau e Santo Antonio no rio Madeira, em Rondônia. Este projeto tem sido duramente criticado pelo Foro Boliviano sobre o Meio Ambiente e desenvolvimento, por comunidades campesinas do norte da Bolívia e pelo MAB (Movimento de Afetados por Represas e Barragens), do Brasil. Estes movimentos afirmam que a hidrelétrica irá afetar as comunidades amazônicas ribeirinhas e fronteiriças de Bolívia e causar impactos ambientais severos em território boliviano. As obras começaram em outubro de 2008 e a construtora Odebrecht, que em uma manobra impressionante ofereceu preço da obra 35% inferior ao que estava no edital, será a responsável pela construção da hidrelétrica. Mais uma vez as relações governo Lula e Odebrecht não cheiram nada bem. Mas o lamentável é que Evo Morales, sendo indígena, tenha entregue várias comunidades indígenas da Bolívia aos mais graves riscos ambientais. O leilão da usina de Jirau, no mesmo rio, está previsto para maio de 2008. Seja como for, o conteúdo desses acordos não deixa dúvida que o processo de venda dos recursos naturais de Bolívia segue e até se aprofunda. O paradoxo é que grande parcela dos camponeses e indígenas acredita que a nova Constituição proposta por Evo representa um freio a este processo de entrega dos recursos naturais. Isto demonstra a enorme importância de discutir com a classe trabalhadora desse país o conteúdo desta Constituição, os acordos energéticos e a política do governo.
A principal tarefa dos revolucionários na Bolívia é explicar pacientemente aos trabalhadores que o único caminho para derrotar a burguesia oligárquica e avançar no processo revolucionário é a continuidade das lutas e a independência de classe frente ao governo de conciliação de classe de Evo Morales. [ 24/12/2007 19:49:00 ]